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Relatos de discentes e docentes

Este espaço é destinado aos relatos dos alunos e professores do curso, dos processos, metodologias e encontros que se tornaram possíveis com o curso DAZ.

Conhecendo o mundo camponês


Reflexão sobre o Trabalho de Campo no Assentamento Terra Nova em São Domingos do Capim-PA

Quando me inscrevi para o curso e li no edital o termo Tempo Comunidade achei diferente e tive muita curiosidade de saber do que se tratava. Falei com a Bertolina que participou do DAZ no ano de 2012 que me disse que era um momento muito rico e importante do curso. Ela tinha razão.

O trabalho de campo em São Domingos do Capim ocorrido em outubro de 2013 se mostrou como um período de muitas aprendizagens em dois eixos principais: O primeiro é o aprendizado sobre a comunidade e seu modo de vida e o segundo se refere ao grupo de trabalho ao qual estava inserida.

A Comunidade Aparecida é uma das seis comunidades do assentamento. Nela tive a oportunidade de ter outra visão sobre o mundo camponês. Conheci muitas pessoas lutadoras, sonhadoras e conscientes de seu papel social.

Aprendi com os camponeses que é necessário lutar e conservar seu lugar no mundo. Durante campo me perguntei: Quem sou eu? Quais meus objetivos? Pelo que devo gastar meu trabalho e minhas energias?

Quando se olha para um agricultor depois de um dia de trabalho árduo fica claro que buscam a melhoria de seus lugares, de seus lotes, de sua família.

Quando um ignorante igual a mim olha para o meio rural e diz que tudo “é igual”, “é tudo mato” é o atestado da falta de compreensão desse modo de vida. É preciso olhar muitas vezes para perceber que capim é diferente de mandioca que é diferente do dendê que é diferente do açaí. Além disso, é bom notar que quem planta mandioca não faz de seu lote só pastagem, e quem fabrica a farinha agrega a família, e quem planta o dendê está aguardando dias melhores com muita esperança.

Como na cidade, a vida no campo é luta, é suor, mas com uma diferença: tem mais solidariedade e sinceridade nas atitudes. Quem fala com fulano é porque realmente considera, tem como amigo e assim vai.

No momento de nossa estada na Comunidade Aparecida, estava no período da safra do açaí. E o movimento que vi dos vizinhos foi interessante: o peconheiro apanhava os cachos no terreno do vizinho com autorização para entrada, dava o açaí para o dono que batia e depois dividia com o peconheiro. Fazia muito tempo que eu não via esse tipo de troca. Essa cena me levou a pensar nos meus avos que viveram um pouco disso no interior de Bragança.

O mundo camponês tem muitas lições para ensinar ao mundo urbano. Aqui na capital já perdemos muitos valores de solidariedade humana. Tomara que essa doença do individualismo não devaste o que por lá ainda se tem de bom.

A experiência do tempo comunidade em São Domingos do Capim atendeu ao que eu esperava, pois foi um momento de interação e conhecimento de uma realidade rural da Amazônia.

 

Cleice Vidal

A Nova Visão do Campesinato


Relato de Antonio Wemerson da disciplina sociedades camponesas, sobre a ida a campo.

Geralmente quando alguém mora no meio urbano e decide fazer uma visita ao interior, na maioria das vezes, vai com uma visão turística, falo por mim. A curiosidade antes de chegar é se o rio ou igarapé é bom para tomar banho, se ali existem frutas boas para se deliciar, se tem um campinho bom para jogar o futebol. Pois bem, após sua diversão volta para casa, contando quantos gols fez, quanto tempo ficou no igarapé tomando banho e que comeu várias frutas deliciosas.

Revelo que eu era assim, não que seja errado querer ir só se divertir nos igarapés, campinhos e etc. Mas minha visão foi ampliada para questões de educação, saúde, cultura, economia e principalmente para o sentimento das pessoas do campo.

Na convivência com os moradores da ilha Maúba, ilha essa que fica na divisa entre Igarapé Miri e Abaetetuba, onde os primeiros registros de moradores podem vir desde os tempos da Cabanagem. Percebi que sua economia é baseada principalmente no açaí e no pescado. Destacam-se o camarão e o peixe, que por sinal também envolvem a cultura local com o borqueio, o taleiro e os mergulhadores. Caso o boto apareça na rede os pescadores tem que finalizar ali o dia de pesca, pois é um aviso da natureza para que os pescadores voltem as suas casas, e este fato além de ser cultural, pode contribuir com o ambiental já que os peixes terão um dia a mais para crescerem, segundo os pescadores.

Outro aspecto cultural registrado foi a semana da criança realizada na comunidade Alto Paruru, evento este organizado pela Associação dos Moradores das Ilhas de Abaetetuba (AMIA), ressalta-se que esse é único evento voltado para esse tipo de público.

Foi possível observar em outubro a questão da segurança, que praticamente não tem na ilha, sendo que cada morador depende de seu vizinho para ajudá-lo na segurança. As questões de educação também me chamaram a atenção, já que na ilha que fica do lado de Igarapé Miri ainda não tem escola com um prédio próprio, sendo que a professora de uma das escolas é multifuncional, fazendo atividades de merendeira, servente, vigia, zeladora dentre outros atributos.

Cheguei no momento em que os movimentos estavam articulando um “gato” de energia elétrica com o grupo de coordenadores “Queremos Energia”, e o que me chamou a atenção foi a garra e a perseverança dos moradores em se atingir a meta que foi puxar energia elétrica para a toda a ilha Maúba.

Lembro-me que os moradores conseguirem atingir a meta da energia, a vida da população vai mudar muito, como por exemplo, na área da saúde, já que o posto médico da comunidade funciona se a energia elétrica, limitando assim os serviços prestados a comunidade.

São vários os moradores na comunidade com trajetórias de vidas de superação, como o exemplo da professora mencionado anteriormente, o posto de saúde possui apenas um funcionário, que trabalha atendendo a comunidade desde o ano de 1986, tem-se o presidente da associação dos moradores que vem lutando por energia elétrica, mais segurança, os pescadores que muitas vezes se arriscam para promover a pesca de borqueio e assim levar o sustento para suas famílias.

Para concluir tudo que relatei no texto, afirmo com toda certeza, que antes da vivência não tinha essa visão, este olhar. A visão de que o Campesinato não é simplesmente um campinho, um rio ou igarapé, uma boa fruta. No campo se tem vidas, e essas enraizadas com sua cultura, com seus saberes, com suas lutas por melhorias nos vários âmbitos. Esta é a nova visão, a do todo e não de parte do campo, essa sim é a visão da sociedade camponesa.

Frutas regionais/exóticas


Noel Bastos, discente.

Experiência muito rica, a aula no Ver-o-Peso, parte da disciplina Organização Social e Redes Econômicas Locais, do professor Gutemberg.
Nossa missão era identificar a rede social e econômica por trás de alguns produtos e seus respectivos vendedores. 
Fiquei com as frutas regionais/exóticas. O trabalho começou quando encontrei a barraca da D. Carmelita, figura conhecida ali na feira.
Estava muito entusiasmado, porque a barraca dela tinha uma grande variedade de frutas e sementes exóticas. 
Esqueci todas as recomendações do professor. Disparei a fazer muitas perguntas e logo confessei que queria levar algumas frutas e sementes para produzir mudas.
Isso deixou D. Carmelita meio brava, sobretudo porque sempre pedia bem pouco de cada coisa.
Deixei a barraca com várias frutas e sementes, mas poucas respostas. A essa altura minha missão acadêmica estava fadada ao fracasso.
Encontrei o professor e contei sobre D. Carmelita, ele gentilmente fez questão de me acompanhar e voltar à barraca.
O professor, com pinta de gringo, jeito baiano e bem mais habilidade, conseguiu prosear mais com D. Carmelita e seus dois ajudantes.
Compramos mais alguns itens. A gafe foi que já tínhamos ido embora sem pagar. O ajudante nos seguiu e lembrou sobre o pagamento. "Agora sim, D. Carmelita não vai querer me ver nem pintado de ouro! Além de perguntador, caloteiro...", foi o que pensei. Voltamos novamente lá e pedimos desculpas pela gafe. Aparentemente tudo ficou bem. Tomara, pois quero voltar lá e conseguir mais frutas e sementes. Quem sabe um dia serei um fornecedor de D. Carmelita?

Trabalho Farinha

Cleice Vidal, discente.

Estou encaminhando fotos de atividades realizadas na disciplina organização social e as redes ministrada pelo professor Gutemberg. A atividade consistia em identificar as redes de relações socais que se formam a partir da produção e venda de alguns produtos da agricultura familiar. Se não me engano, 7 grupos visitaram a Feira do Ver-o-Peso no último dia 04 de outubro. A turma tinha como missão identificar as redes que se formam a partir da cuia, maniva, abacaxi, peixe, frutas exóticas, cheiro verde e a farinha. Eu e Lucinaldo identificamos a rede da farinha. Foi muito interessante porque o professor fez a gente perceber que todos estamos em uma rede social e mostrou que podemos usar essa técnica durante o trabalho no assentamento. Ensinou também as "malandragens" de como obter informações valiosas para o nosso trabalho. Espero aprender mais com ele no próximo momento da disciplina. Ele tem as fotos.

Saudações,

 

Cleice Vidal

Memória DAZ Residência agrária
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